domingo, 26 de julho de 2009

A CAMPONESA


A Gentil Camponesa

MOTE

Tu és pura e imaculada,
Cheia de graça e beleza;
Tu és a flor minha amada,
És a gentil camponesa.

GLOSAS

És tu que não tens maldade,
És tu que tudo mereces,
És, sim, porque desconheces
As podridões da cidade.
Vives aí nessa herdade,
Onde tu foste criada,
Aí vives desviada
Deste viver de ilusão:
És como a rosa em botão,
Tu és pura e imaculada.

És tu que ao romper da aurora
Ouves o cantor alado...
Vestes-te, tratas do gado
Que há-de ir tirar água à nora;
Depois, pelos campos fora,
É grande a tua pureza,
Cantando com singeleza,
O que ainda mais te realça,
Exposta ao sol e descalça,
Cheia de graça e beleza.

Teus lábios nunca pintaste,
És linda sem tal veneno;
Toda tu cheiras a feno
Do campo onde trabalhaste;
És verdadeiro contraste
Com a tal flor delicada
Que só por muito pintada
Nos poderá parecer bela;
Mas tu brilhas mais do que ela,
Tu és a flor minha amada.

Pois se te tenho na mão,
Inda assim acho tão pouco,
Que sinto um desejo louco:
Guardar-te no coração!...
As coisas mais belas são
Como as cria a Natureza,
E tu tens toda a grandeza
Dessa beleza que almejo,
Tens tudo quanto desejo,
És a gentil camponesa

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

3 comentários:

Kosta disse...

Grande poeta do Sul (VRSA), aqui recordado por um portuense, através deste belo hino às mulheres do campo!
Obrigada!

Kosta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
josé machado disse...

Quando lemos Aleixo, torna-se claro as suas humildes origens, de um ser inconformado com as injustiças socais, uma forte e endógena paixão pelas tradições da sua região e país, independentemente da sua naturalidade. Um belo artista semi-analfabeto, capaz do mais belo que se encontra no universo da poesia.